O avanço tecnológico e a transformação digital têm impulsionado a demanda por serviços de desenvolvimento e manutenção de software, especialmente no setor público. Recentemente, o governo federal brasileiro alterou o modelo de contratação desses serviços, impondo regras mais rigorosas e formais, com destaque para a exigência da contratação de profissionais em regime celetista e a obrigatoriedade de alinhamento dos custos com mapas de cargos e salários previamente definidos.

Essas mudanças impactam diretamente as empresas fornecedoras de soluções tecnológicas ao setor público, alterando a gestão de contratos, a conformidade trabalhista e a estrutura de custos. Além disso, refletem a busca do setor público por maior controle, transparência e qualidade na prestação desses serviços essenciais para a sociedade.

Neste artigo, apresentamos uma análise abrangente sobre o novo modelo de contratação governamental para desenvolvimento e manutenção de software, seus impactos, desafios, benefícios, aspectos legais e estratégicos, além das perspectivas para o mercado de tecnologia e contratos públicos no Brasil.

O que mudou no modelo de contratação de software pelo governo?

A atualização do modelo de contratação pelo governo federal visa estabelecer maior formalidade e segurança jurídica nas relações contratuais envolvendo serviços de desenvolvimento, manutenção e sustentação de software. As principais mudanças são:

  • Contratação em regime celetista: A partir de agora, as empresas fornecedoras deverão contratar seus profissionais em regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), afastando a possibilidade de modelos baseados em terceirização flexível, cooperativas ou contratos temporários para esses serviços.
  • Alinhamento dos custos com mapas de cargos e salários: Os custos relacionados ao pessoal devem ser compatíveis com tabelas de cargos e salários previamente definidas e homologadas pelo setor público, garantindo transparência e controle dos gastos.
  • Maior rigor na fiscalização e compliance: O governo estabeleceu mecanismos de acompanhamento mais rigorosos para assegurar que as empresas cumpram as obrigações trabalhistas e contratuais, evitando riscos de passivos trabalhistas e prejuízos à administração pública.

Essa nova sistemática busca adequar os contratos às melhores práticas de governança, com foco na qualidade dos serviços prestados e na proteção dos direitos dos trabalhadores envolvidos.

Impactos para as empresas fornecedoras de software ao governo

A alteração do modelo contratual traz uma série de impactos que as empresas do setor de tecnologia devem considerar para se adequar e manter sua competitividade no mercado público:

1. Aumento dos custos trabalhistas

A contratação em regime celetista implica em encargos sociais obrigatórios, como INSS, FGTS, férias remuneradas, 13º salário, adicionais legais e benefícios trabalhistas que elevam significativamente o custo da mão de obra. Isso pode afetar a margem de lucro das empresas, exigindo revisão dos orçamentos e preços praticados em licitações públicas.

2. Rigidez na gestão de recursos humanos

A formalização do vínculo empregatício impõe regras mais rígidas para a contratação, desligamento, férias e demais aspectos trabalhistas, demandando maior investimento em departamentos de recursos humanos, compliance e gestão jurídica.

3. Necessidade de adequação às tabelas de cargos e salários

As empresas precisarão alinhar suas estruturas salariais e planos de carreira às tabelas homologadas pelo setor público, o que pode exigir revisões profundas na organização interna, além de planejamento para evitar inconformidades e riscos contratuais.

4. Competitividade e estratégia comercial

Com o aumento dos custos e da burocracia, algumas empresas podem encontrar dificuldades para competir, especialmente as de menor porte ou que atuavam com modelos flexíveis de contratação. A adaptação rápida e estratégica será chave para manter a participação nos processos licitatórios governamentais.

5. Repercussões na cadeia de fornecimento

Os efeitos da mudança podem se estender a fornecedores indiretos e parceiros, que também precisarão revisar seus modelos contratuais, impactando a cadeia produtiva de tecnologia no setor público.

Benefícios esperados com o novo modelo para o setor público

A mudança no modelo de contratação de software pelo governo não visa apenas impactar os fornecedores, mas principalmente aprimorar a qualidade e segurança dos serviços públicos:

1. Maior controle e transparência

O alinhamento dos custos com mapas de cargos e salários permite maior transparência na utilização dos recursos públicos, facilitando a fiscalização e o acompanhamento dos contratos.

2. Redução de riscos trabalhistas e jurídicos

A formalização do vínculo em regime celetista diminui a possibilidade de passivos trabalhistas para a administração pública, que anteriormente poderia ser responsabilizada por irregularidades em contratos terceirizados.

3. Estabilidade e qualificação dos profissionais

Com contratos formais, espera-se maior estabilidade e comprometimento dos profissionais envolvidos, o que pode refletir em melhoria na qualidade dos serviços de desenvolvimento e manutenção de software.

4. Melhoria na gestão contratual

A adoção de normas claras e padronizadas facilita a gestão, fiscalização e avaliação dos contratos, contribuindo para maior eficiência administrativa.

Desafios e riscos para os profissionais e empresas

Apesar dos benefícios, o novo modelo apresenta desafios que devem ser cuidadosamente gerenciados:

Para as empresas

  • Elevação do custo operacional: A necessidade de arcar com encargos trabalhistas pode pressionar as finanças, especialmente em contratos com margens estreitas.
  • Adaptação organizacional: Empresas terão que investir em gestão de recursos humanos, compliance e adequação jurídica para cumprir as novas exigências.
  • Riscos de exclusão do mercado: Pequenas e médias empresas, com estrutura menos robusta, podem ser prejudicadas e até excluídas do mercado público.

Para os profissionais

  • Mudança nas condições de trabalho: A formalização pode garantir direitos, mas também impor regras mais rígidas, o que pode gerar resistências ou dificuldades de adaptação.
  • Possibilidade de redução de oportunidades flexíveis: Profissionais que atuavam em regimes alternativos podem ter menos oportunidades com o novo modelo.

Para o setor público

  • Implementação e fiscalização: Demandará investimento em equipes capacitadas para monitorar o cumprimento das novas regras e garantir qualidade dos serviços.
  • Potencial aumento dos custos públicos: A formalização e elevação de custos pode pressionar os orçamentos governamentais, exigindo planejamento orçamentário adequado.

Como se preparar para atender ao novo modelo de contratação

A adequação ao novo modelo é essencial para a continuidade das operações no mercado público. Algumas ações recomendadas são:

1. Revisar contratos e políticas internas

Realizar análise detalhada dos contratos atuais e das políticas de recursos humanos para identificar ajustes necessários à conformidade com o regime celetista.

2. Estruturar mapas de cargos e salários

Desenvolver ou atualizar tabelas de cargos e salários alinhadas às exigências governamentais, considerando o mercado e as qualificações exigidas.

3. Investir em consultoria especializada

Contratar assessoria jurídica, trabalhista e contábil para orientar a transição, prevenir riscos e garantir a conformidade legal.

4. Capacitar gestores e equipes

Promover treinamentos sobre as novas regras e impactos práticos para as áreas envolvidas na gestão de contratos, recursos humanos e compliance.

5. Planejar financeiramente

Revisar orçamentos e estratégias comerciais para absorver os custos adicionais e manter competitividade nas licitações.

6. Acompanhar atualizações normativas

Manter-se informado sobre eventuais alterações legais, regulatórias e jurisprudenciais relacionadas ao tema para ajustar rapidamente as práticas empresariais.

Aspectos legais e normativos do modelo atualizado

A atualização do modelo foi formalizada por meio de normativos oficiais publicados no portal do governo federal, acompanhados de consultas públicas e debates com setores envolvidos. Entre os principais pontos legais:

  • Regulamentação do regime de contratação: Estabelece a obrigatoriedade do regime celetista para profissionais envolvidos no desenvolvimento e manutenção de software contratados pelo setor público.
  • Critérios para composição de custos e salários: Define parâmetros para elaboração e homologação dos mapas de cargos e salários, garantindo transparência e controle.
  • Diretrizes para fiscalização e penalidades: Estabelece mecanismos para acompanhar o cumprimento das obrigações e aplicar sanções em casos de descumprimento.
  • Integração com legislações específicas: Considera normas complementares como a Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021), a CLT, o Código de Defesa do Consumidor e legislações ambientais, assegurando coerência jurídica.

É fundamental que empresas e órgãos públicos estejam atualizados e orientados para lidar com o arcabouço legal, prevenindo litígios e promovendo contratos eficazes.

Tendências e perspectivas para o mercado de tecnologia e contratos públicos

A digitalização dos serviços públicos é uma tendência global que amplia a demanda por soluções tecnológicas inovadoras. Nesse contexto, o novo modelo de contratação sinaliza algumas perspectivas:

1. Formalização e profissionalização

O setor público busca maior formalidade e governança nas contratações, alinhando-se a padrões internacionais de compliance, qualidade e responsabilidade social.

2. Crescimento da demanda por soluções tecnológicas

Com a modernização dos serviços públicos, a necessidade de desenvolvimento e manutenção de softwares especializados tende a aumentar, ampliando o mercado para fornecedores qualificados.

3. Reestruturação do mercado fornecedor

Empresas que investirem em adequação estrutural e gestão profissional estarão em vantagem competitiva, enquanto fornecedores menos estruturados podem ser excluídos.

4. Potencial concentração de mercado

A maior rigidez contratual pode levar à concentração do mercado em grandes empresas, exigindo políticas públicas que incentivem a participação de pequenas e médias empresas.

5. Inovação e adaptação tecnológica

Empresas deverão estar atentas às evoluções tecnológicas e às mudanças culturais e econômicas que afetam o setor, garantindo inovação contínua e atendimento às novas demandas.

Considerações sobre fatores externos que influenciam o sucesso no novo modelo

Além das mudanças legais e contratuais, outros fatores influenciam diretamente a oportunidade e competitividade das empresas no mercado público de software:

  • Controle governamental: A atuação sob rígido controle regulatório exige atenção constante às mudanças nas leis e políticas públicas.
  • Disponibilidade de insumos: Acesso facilitado a recursos tecnológicos, infraestrutura e mão de obra qualificada é fundamental para atender às exigências governamentais.
  • Ciclo de vida do setor: O setor de tecnologia está em constante expansão, o que representa oportunidades, mas também exige inovação e adaptação rápidas.
  • Mudanças tecnológicas: A evolução tecnológica pode impactar o modelo de negócios, demandando atualização e investimento contínuo.
  • Aspectos culturais e sociais: Valores éticos, padrões culturais e expectativas sociais influenciam a forma como os serviços são demandados e oferecidos.
  • Sazonalidade e situação econômica: Flutuações econômicas e sazonalidade podem afetar a demanda e a viabilidade dos contratos.

Empresas que considerarem esses aspectos em sua estratégia terão maior capacidade de sucesso e sustentabilidade no mercado público.

Conclusão

A recente alteração no modelo de contratação para desenvolvimento e manutenção de software pelo governo federal representa uma transformação significativa para o setor de tecnologia da informação no Brasil. A imposição do regime celetista e a obrigatoriedade de alinhamento dos custos com mapas de cargos e salários trazem desafios, mas também oportunidades para empresas que estejam preparadas para adaptar suas estruturas, processos e estratégias.

Para o setor público, as mudanças promovem maior controle, transparência e segurança jurídica, aspectos essenciais para a boa governança e a prestação de serviços de qualidade à população.

Empresas e profissionais que buscarem conhecimento aprofundado, investirem em conformidade e gestão eficiente estarão melhor posicionados para competir e prosperar nesse novo cenário, contribuindo para a inovação e excelência na tecnologia pública.

Se você deseja aprofundar seu entendimento ou precisa de orientação para adequar sua empresa às novas exigências, consulte especialistas em direito administrativo, contratos públicos e gestão de recursos humanos.

Prepare-se para o futuro da contratação pública em tecnologia e esteja à frente das transformações que moldam o setor!

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